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terça-feira, 9 de agosto de 2016

Uma vez, Pedro; duas vezes, Judas!

Ariovaldo Ramos

A história, parece, raramente dá duas chances exatamente iguais a uma mesma pessoa.

Temos, entretanto, na Bíblia, um exemplo da exceção: o apóstolo Pedro

Pedro foi avisado por Jesus que antes do galo cantar, o trairia três vezes.

Ao avisar o apóstolo da sua iminente queda, Jesus estava lhe dando a oportunidade de pedir ajuda, e, assim, evitar o julgamento da história.

Pedro perdeu a oportunidade. Desafiou Jesus, levantando a suposição de que a profecia do Mestre não tinha boa base.

Jesus, então, comunicou a Pedro que oraria por ele, para que a sua fé não desfalecesse, e pediu-lhe para que, quando se convertesse, cuidasse de seus irmãos.

Pedro perdeu uma grande oportunidade na história, a oportunidade ficar do lado certo, de pedir ajuda, e de vencer-se a si mesmo pela ajuda que receberia.

Contudo, Jesus não só perdoou a Pedro, como lhe deu uma nova chance no colégio apostólico. Informou ao apóstolo que, no fim de sua vida, ele teria outra chance, qual seja, a de escolher entre o seu conforto e o senhor Jesus, pois lhe ofereceriam este conforto pela negação de Cristo, ou, então, o executariam da pior forma possível.

A história nos conta que Pedro ficou do lado certo, daquela vez, escolheu ser fiel a Jesus Cristo e foi morto por crucificação, porém, de cabeça para baixo; portanto, de modo bastante cruel. A história, então, o absolveu porque não capitulou segunda vez.

Este foi um caso, portanto, bastante insólito, uma mesma pessoa ter duas chances na vida em relação a mesma decisão, trair ou não trair o Cristo.

Curiosamente, a história brasileira recente, deu à igreja evangélica, que está no Brasil, a mesma possibilidade dada a Pedro, guardadas as devidas proporções.

Em 1964 o Brasil sofreu um golpe civil militar, que durou por quase 30 anos. O custo para a democracia brasileira foi altíssimo. Sem contar as pessoas que foram particularmente prejudicadas, Inclusive torturadas, quando não mortas.

Este golpe civil militar provocado pelas forças conservadoras da elite brasileira, teve, no início, o suporte da igreja romana, depois, o apoio desta deu lugar ao apoio evangélico. O que significa que os evangélicos que, no princípio do movimento, se abstiveram, num segundo momento aderiram aos traidores da democracia.

Foi um momento trágico, irmãos foram entregues às forças ditatoriais, submetidos a tortura, mortos ou exilados. Simultaneamente, houve um golpe à direita dentro das denominações que, de modo oficial ou oficioso, apoiaram a ignomínia do ataque à ordem constitucional da nação.

Perdemos uma grande oportunidade na história, e a história, implacável como é, não pode perdoar. Ficou a mancha da ação vergonhosa, registrada nos livros, regada pelas lágrimas, lamentada nos testemunhos dos que sofreram.

De forma lamentável, porém, inusitada, a história brasileira oferece uma nova chance a igreja que está em solo pátrio, qual seja, a de sustentar ou de trair a democracia, aderindo ou não ao ataque à ordem constitucional.

Mais uma vez a nação brasileira assiste movimentos ao arrepio da lei. Desta vez, com muito menos ímpeto patriótico, que não pode ser negado aos militares que apoiaram e acabaram por comandar o golpe civil militar, de então.

O movimento de hoje tem em comum com o de antanho o mesmo descaso para com a carta magna, portanto, para com a ordem democrática. Mas, o de hoje, é comandado por protagonistas, cujas motivações e propósitos estão, cada vez mais, sendo avaliadas como muito distantes de qualquer boa intenção para com a construção nacional.

Pelo contrário, os comandantes, tudo parece indicar, não passariam  ilesos a um tribunal descente. Desencadearam um processo de impedimento sob muita suspeição, cujo crime aventado para justificar tal medida, foi técnica e juridicamente desqualificado como tal.

O processo, se consolidado pelo Senado, consubstanciará um movimento ilegítimo de tomada do poder, já exposto mundialmente, atém de ter sido condenado por tribunal internacional, reunido no Brasil para julgar o movimento, tido como espúrio. A ilicitude já foi tão exposta que, não importa a justificativa que se tente apresentar, o juízo da história será implacável.

Desta vez, grande parte da igreja evangélica brasileira, não apenas anuiu, como tem sido tachada de protagonista do movimento, mundialmente, condenado por todos os que respeitam a democracia.

O movimento que começou com uma ala específica da igreja, inclusive, uma tanto questionada, gradativamente foi se tornando hegemônico, conquistando, até mesmo, veementes adversários teológicos do grupo iniciante ( http://www.anajure.org.br/apos-reuniao-estrategica-da-anajure-com-lideres-religiosos-de-todo-o-pais-presidente-do-brasil-recebe-comitiva-no-palacio-do-planalto/.)  Ambos foram tornando, na prática, artigo de fé, a escolha ideológica, e, flagrantemente, antidemocrática, de modo que, os evangélicos discordantes, de meros opositores de ideário, foram sendo classificados de hereges, e lançados na fornalha dedicada aos ateus.

Perdemos uma nova oportunidade na história, oportunidade esta, sejamos claros, que jamais desejamos, entretanto, nos foi dada e, mais uma vez, capitulamos. A história não nos terá por inocentes, implacável como é, não nos perdoará; e, possivelmente, nem mesmo Jesus o fará.