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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Reformas no campo e na cidade

Isaías 5.8-10 

 “Ai de vocês que compram todas as casas

e se apossam das terras,

Expulsando os antigos moradores,

Fixando placas de “Não entre”,

Tomando conta do país e

deixando a população sem abrigo e sem terra.

Ouvi, por acaso, o Senhor dos Exércitos de Anjos dizer:

“Esses casarões vão ficar vazios.

Essas propriedades imensas ficarão desertas.

Uma vinha de dez alqueires produzirá apenas uma jarra de vinho,

um barril de semente produzirá dez quilos de trigo”. 


Na estrada da transformação do Brasil uma medida se impõe: a reforma agrária. 


O país tem sofrido de aguda injustiça fundiária desde o seu nascedouro: as chamadas capitanias hereditárias, onde portugueses recebiam incomensuráveis glebas de terra no país, foram as medidas escolhidas pela coroa portuguesa para incentivar a invasão e colonização do país. 


Desde então a nação brasileira sofre a desdita de ver grande parte de seu ativo fundiário na mão de poucos proprietários, isso sem contar que muitos destes proprietários galgaram essa posição por meios violentos e ilegais. 


Nada é tão confuso e tão eivado de corrupção no país quanto a questão da posse da terra.

 

Uma das questões que subjazem nesse desafio nacional é o princípio de que, no Brasil, se alguém  tiver poder aquisitivo, pode ter o quanto de terra e casa quiser. 


Como se pode perceber o princípio que norteia o texto bíblico é contrário a esse paradigma, isto é, o texto impõe limites, ninguém pode ter tudo o que quer só porque pode. 


O princípio das escrituras impõe limites ao poder aquisitivo. 


E esse é o primeiro padrão que precisa ser atacado no país, é preciso impor um limite à posse, tanto ao número de propriedades, quanto ao tamanho das mesmas. 


Segundo as escrituras, ninguém pode concentrar propriedades a ponto de ameaçar a moradia ou direito à terra, que todos os seres humanos devem usufruir.  


Isto é justamente o que acontece no Brasil, o direito à moradia é negado por causa do jeito como a propriedade privada é permitida, um jeito totalmente injusto. 

 

Concentrando-nos na questão agrária nos damos conta de que o país sofre, ainda, a agravante de que o latifúndio pratica a monocultura, movido pelo que o mercado internacional melhor pague, que é o princípio do chamado agronegócio. 


Esse princípio compromete a agricultura de subsistência, responsável pela produção de alimentos, e é responsável pelo êxodo rural, e pelo aprofundamento da pobreza, e pela opção pelos transgênicos, e pelo excesso de agrotóxicos; e, ainda, atenta contra a economia popular e contra a soberania nacional. 


O agronegócio vende os grãos e depois nós os readquirimos beneficiados pelos nossos antigos clientes, agora, credores. 


E tem a questão dos transgênicos, porque acabamos por pagar royalties por algo em que, até então, éramos soberanos, as sementes, por exemplo.  


Há, ainda, que se considerar que os transgênicos transformam seres humanos em cobaias; e submetem o meio ambiente a impacto não prognosticável.


O que é preciso fazer no campo, é, também, preciso fazer na cidade.


O povo de Israel recebeu ordens de renovar a sociedade a cada 50 anos. Era a lei do jubileu.


As terras, a cada 50 anos tinham de ser devolvidas para os antigos beneficiados, isto é, para os respectivos moradores das tribos possuidoras destas,


 Quando Deus distribuiu, entre as tribos de Israel, as terras das nações que ele havia julgado, por terem chegado ao limite da iniquidade tolerada na história, estas terras não seriam propriedades das tribos, mas usufruto em comodato. 


As terras não podiam ser vendidas, apenas as colheitas, num total de 49 colheitas, no final das quais as terras teriam de ser devolvidas.


Os que entregaram as terras para pagamento de dívidas, poderiam ofertar o seu trabalho por metade do salário, para pagamento dessas dívidas, caso a entrega das colheitas não fosse suficiente. 


Escravização, em Israel, era esse empregar-se por metade do salário para pagamento da dívida contraída, cujo pagamento não fora saldado com a venda do direito a 49 colheitas. 


Esse tipo de relacionamento empregatício tinha um prazo de sete anos, após o que, o trabalhador tinha de ser liberado e suas dívidas perdoadas.


Acumulação de terras era proibida em Israel. 


O profeta Isaías estendeu esse princípio, também, para a realidade urbana, pois, no texto, Deus passa a utilizar, na cidade, a mesma lógica aplicada para realidade rural. 


O profeta Isaías acrescenta que Deus irá julgar os acumuladores de casas, fazendo com que suas mansões fiquem desertas, assim como julgaria os acumuladores de terra com improdutividade.


No Brasil a realidade da possibilidade de acumulação desmedida no mundo rural, transferiu-se para a realidade urbana: na cidade uma pessoa pode, em tese,  ser dona de todas as moradias, transformando todos os possíveis moradores da cidade em seus inquilinos, ou os condenando a viver em situação de rua. 


Em princípio a Bíblia não é simpática à ideia de posse.   


E, sem dúvida, é totalmente contrária à acumulação e à concentração, de modo a que alguém  possa  ser a única moradora do lugar, ou seja, a única proprietária.


Em outras palavras, a Bíblia limita a posse de propriedades, porque questiona a lógica da propriedade privada, logo, esse pretenso direito não pode ser usufruído às custas do direito à moradia, a que todos os seres humanos fazem jus.


Portanto, na Escritura Sagrada, direito à moradia é superior ao direito à propriedade. 


O objetivo de Deus é que todos tenham moradia. 


Na fala de Jesus Cristo, isso está contemplado no seu  comentário sobre a nudez, em Mateus 25.36 quando Jesus disse: “estava nu e me vestistes”, ou seja, não me deixastes exposto a minha fragilidade. 


E o que cobre o ser humano, de fato, na vida em sociedade, é o usufruto do direito à moradia. 


Assim, uma sociedade cristã, dá prioridade à função social da propriedade urbana, porque dá prioridade à moradia. 


No mundo rural, a Bíblia dá prioridade à produção de alimentos, porque dá prioridade à segurança alimentar, que só é possível em pequenas propriedades, até porque a Bíblia não apoia o latifúndio, como disse o profeta. 


Nós, cristãs e cristãos no Brasil temos de tomar posição ao lado das reformas agrária e urbana, a nossa fé ensina isso. 


terça-feira, 14 de setembro de 2021

Louco

Louco!


“Como o louco que lança fogo, flechas e morte, assim é o homem que engana a seu próximo e diz: Fiz isso por brincadeira.” Provérbios 26.18,19


“Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.” Jair Bolsonaro


Recuou! Ainda bem! 


Porém, quem pode aquilatar o custo dessa aventura inconsequente?


Quanta gente migrou atrás de um sujeito que agiu como o louco que lança fogo, flechas e morte?


Quanta ansiedade envolta por maus presságios e desesperadoras memórias assolaram o coração da gente Brasileira?


Quantos laços familiares e de amizades foram quebrados por causa de um tresloucado, que acabou por despertar o que pode haver de pior no ser humano?


A história desse homem tem sido uma “brincadeira de mau gosto” para dizer o mínimo. E a que risco expôs a nação!


Certamente, os que ele entendia por interlocutores, para a consecução de sua loucura, foram os que refluíram, deixando claro que, finalmente, tudo tem limite, a inconsequência, por excelência. 


Quanto tempo nossa nação suportará estar à deriva de tanta irresponsabilidade? A descrição biblica se encaixa perfeitamente ao quadro: “Como o louco que lança fogo, flechas e morte…”!


Quanto mais essa desventura comprometerá o nosso futuro para além do que já o fez?


O Congresso, assim como o judiciário não pode se furtar à sua obrigação constitucional, porque, para gente assim, a lucidez é episódica e efêmera! E ninguém aguenta mais!


domingo, 22 de agosto de 2021

Talibã evangélico?

Talibã evangélico?
Ariovaldo Ramos 

“Sejam bons cidadãos. Todos os governos estão abaixo de Deus. Se há paz e ordem, é ordem de Deus. Então, vivam de modo responsável como cidadãos. Se forem irresponsáveis para com o Estado, estarão sendo irresponsáveis para com Deus, e Deus pedirá contas disso.”Rm.13.1(A Mensagem)

Estamos assistindo a um ato de irresponsabilidade para com o Estado e para com Deus: Um grupo de pastores está convocando o povo evangélico para a insurgir-se contra o Estado Democrático de Direito, pedindo que as Forças Armadas desrespeitem a Constituição e fechem o Congresso Federal e o Supremo Tribunal Federal.

Querem tornar o presidente em ditador e, assim, interromper a democracia e por fim à República Federativa do Brasil.

Diante desse Pecado e Irresponsabilidade cívica, é preciso registrar nosso repúdio a qualquer tipo de ditadura e a nossa reprovação a estes pastores que querem levar a Igreja Evangélica a participar do crime de traição ao Estado Democrático de Direito.

O que estes pastores estão sugerindo é crime, pelo qual devem responder diante da justiça.

A Igreja deve sustentar a democracia, o  Estado Democrático de Direito. 

Encorajo a todas as irmãs e irmãos a resistirem a esses pastores que, a exemplo do Diabo, apregoam a insurreição contra Deus e Estado Democrático de Direito.

As instituições democráticas não devem ser ameaçadas sob hipótese alguma; da independência  dos três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, pilares da República, funcionando harmoniosamente, dependem a paz e o progresso da nação.

Toda e qualquer divergência na democracia deve ser solucionada por meio democrático sob a soberania da Lei. E o sufrágio universal (eleições) é o único meio legitimo de provocar a alternância do poder.

É inadmissível qualquer tentativa de instalar no país uma espécie de Talibã evangélico!

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Igreja inclusiva

Igreja inclusiva



Há muitos falando em igreja inclusiva. 


É preciso perceber a diferença entre igreja e comunidade, ou, melhor, comunidades. 


No Novo Testamento, mais propriamente nos apóstolos, a igreja começa sendo apresentada como o corpo de Cristo, composta por quem recebe fé e, portanto, habitado pelo Espírito Santo, nasce de novo, tornando-se súdito do reino de Deus. 


Rapidamente, entretanto, os apóstolos começam a compreender que a igreja, corpo de Cristo não pode ser confundida com as diversas comunidades que se entendem cristãs. 


Compreenderam que a religiosidade humana não precisa ter nada a ver com Deus e suas demandas, que a religiosidade pode ser a prática mórbida da auto-redenção, onde o ser humano se autojustifica a partir de supostas práticas, geralmente, de ordem moral ou ética, que o colocam num patamar superior aos demais mortais, fazendo, assim, jus à eleição divina. 


E constaram isso numa época em que se dizer cristão poderia ser muito perigoso.


E essa conclusão foi ratificada por Jesus que, ao escrever às sete igrejas, como registrado no Apocalipse, fez questão de mencionar que se dirigia à quem tivesse ouvidos para ouvir, deixando claro que as comunidades cristãs não são, necessariamente, o corpo de Cristo. 


Estar filiado a comunidade cristã não significa fazer parte da igreja de Cristo. 


Pouco a pouco foi ficando claro que os filhos e filhas do Deus Triuno só o próprio Deus conhece. 


Paulo começou a nos advertir disso quando trouxe à tona que o verdadeiro israelita era o circuncidado de coração, fazendo eco à grita dos profetas. 


Como dito acima, muitos estão falando em igreja inclusiva, confundindo a Igreja com as comunidades. 


Só o Pai inclui seres humanos na Igreja, corpo de Cristo. 


É o pacto da Trindade: Cristo fez a expiação que abrange toda a humanidade, o Pai chama quem decidiu chamar, supõe-se, que segundo critérios não revelados, e o Espírito Santo, aos tais, confere a fé, ressuscita-lhes o espírito, tornando cada qual um espírito com Cristo, por meio da habitação do próprio Espírito Santo na pessoa. 


Nesse ato devolve à pessoa a sua verdadeira identidade, perdida na rebelião humana. 


Identidade que é anunciada por seu verdadeiro nome, que saberá qual é quando receber a pedra onde está registrada o seu verdadeiro nome. 


Os filhos e filhas de Deus só Deus conhece. E a Trindade só declara a filiação à pessoa que adotou. Assim, só a Trindade conhece todas as pessoas que compõem a Igreja de Cristo. E sobre fazer parte ou não desse Igreja só a pessoa pode dizê-lo, porque o Espírito Santo é quem diz a cada pessoa se ela é ou não filha de Deus. Cada pessoa, portanto, só sabe de si. Se o sabe. 


Falar que a igreja tem de ser inclusiva é dizer o que só Deus pode fazer. E que ninguém, além da própria pessoa saberá. 


Essa decisão divina é ato de Deus por sua graça, não tem nada a ver com qualquer condição prévia dessa pessoa, e não há nada que qualquer ser humano possa fazer a respeito. 


Sobra aos seres humanos a construção das comunidades, que serão construídas com base na sua teologia, onde define sua compreensão de Deus e do salvo,  na denominação a que se filiarem e nas decisões de suas respectivas assembléias. 


As comunidades evangélicas são muitas e diversas, há as restritas, as acolhedoras e as inclusivas.


Quem quer que se entenda filha ou filho de Deus pode escolher a comunidade que lhe aprouver, só não pode forçar qualquer comunidade a recebê-lo ou recebê-la, até porque isto não tem nada a ver com seu destino eterno.