Igreja inclusiva
Há muitos falando em igreja inclusiva.
É preciso perceber a diferença entre igreja e comunidade, ou, melhor, comunidades.
No Novo Testamento, mais propriamente nos apóstolos, a igreja começa sendo apresentada como o corpo de Cristo, composta por quem recebe fé e, portanto, habitado pelo Espírito Santo, nasce de novo, tornando-se súdito do reino de Deus.
Rapidamente, entretanto, os apóstolos começam a compreender que a igreja, corpo de Cristo não pode ser confundida com as diversas comunidades que se entendem cristãs.
Compreenderam que a religiosidade humana não precisa ter nada a ver com Deus e suas demandas, que a religiosidade pode ser a prática mórbida da auto-redenção, onde o ser humano se autojustifica a partir de supostas práticas, geralmente, de ordem moral ou ética, que o colocam num patamar superior aos demais mortais, fazendo, assim, jus à eleição divina.
E constaram isso numa época em que se dizer cristão poderia ser muito perigoso.
E essa conclusão foi ratificada por Jesus que, ao escrever às sete igrejas, como registrado no Apocalipse, fez questão de mencionar que se dirigia à quem tivesse ouvidos para ouvir, deixando claro que as comunidades cristãs não são, necessariamente, o corpo de Cristo.
Estar filiado a comunidade cristã não significa fazer parte da igreja de Cristo.
Pouco a pouco foi ficando claro que os filhos e filhas do Deus Triuno só o próprio Deus conhece.
Paulo começou a nos advertir disso quando trouxe à tona que o verdadeiro israelita era o circuncidado de coração, fazendo eco à grita dos profetas.
Como dito acima, muitos estão falando em igreja inclusiva, confundindo a Igreja com as comunidades.
Só o Pai inclui seres humanos na Igreja, corpo de Cristo.
É o pacto da Trindade: Cristo fez a expiação que abrange toda a humanidade, o Pai chama quem decidiu chamar, supõe-se, que segundo critérios não revelados, e o Espírito Santo, aos tais, confere a fé, ressuscita-lhes o espírito, tornando cada qual um espírito com Cristo, por meio da habitação do próprio Espírito Santo na pessoa.
Nesse ato devolve à pessoa a sua verdadeira identidade, perdida na rebelião humana.
Identidade que é anunciada por seu verdadeiro nome, que saberá qual é quando receber a pedra onde está registrada o seu verdadeiro nome.
Os filhos e filhas de Deus só Deus conhece. E a Trindade só declara a filiação à pessoa que adotou. Assim, só a Trindade conhece todas as pessoas que compõem a Igreja de Cristo. E sobre fazer parte ou não desse Igreja só a pessoa pode dizê-lo, porque o Espírito Santo é quem diz a cada pessoa se ela é ou não filha de Deus. Cada pessoa, portanto, só sabe de si. Se o sabe.
Falar que a igreja tem de ser inclusiva é dizer o que só Deus pode fazer. E que ninguém, além da própria pessoa saberá.
Essa decisão divina é ato de Deus por sua graça, não tem nada a ver com qualquer condição prévia dessa pessoa, e não há nada que qualquer ser humano possa fazer a respeito.
Sobra aos seres humanos a construção das comunidades, que serão construídas com base na sua teologia, onde define sua compreensão de Deus e do salvo, na denominação a que se filiarem e nas decisões de suas respectivas assembléias.
As comunidades evangélicas são muitas e diversas, há as restritas, as acolhedoras e as inclusivas.
Quem quer que se entenda filha ou filho de Deus pode escolher a comunidade que lhe aprouver, só não pode forçar qualquer comunidade a recebê-lo ou recebê-la, até porque isto não tem nada a ver com seu destino eterno.