Toda Vida é Missão, e Missão é Toda Vida
Ariovaldo Ramos
"O DEUS nos deu a tarefa de cuidar do planeta. É, temos de nos espalhar pela terra, conquistá-la e dominar sobre as demais criaturas.
Ele nos deu um modelo, o jardim. O jardim é comunitário, o que se busca é a beleza do conjunto. Essa beleza nasce do acesso à água, ao Sol e aos nutrientes para todas as espécies e espécimes. Assim como o controle do crescimento particular, via poda, e da proliferação, via controle de natalidade.
E isso vale, também, para nós! Eu diria, principalmente, para nós, que somos, simultaneamente, jardineiros e parte do jardim.
Além do jardim, como modêlo, o DEUS nos cumulou com possibilidades: talentos, capacidades de ordem operacional, moral e espiritual. E precisamos mesmo, temos de, cuidando, explorar o planeta! É dele que vem o sustento do DEUS para nós.
Teremos de conhecer todas as possibilidades de seu solo e subsolo, de saber como transformar isso em alimento e condições de vida, com qualidade, temos de dimensionar o espaço para nós e para as demais criaturas.
Nós perdemos o jardim, a terra perdeu parte da sua espontaneidade, e algo aconteceu conosco, nossa natureza não é mais límpida, como era antes de termos desobedecido e de sermos expulsos. É, de verdade, ficamos exatamente o contrário do que éramos. Percebo, entretanto, parte do que fomos, em nós, mas já não é mais intrínseco a nós. De fato, parece um empréstimo do DEUS. AInda bem que o DEUS, que nos prometeu salvação, não nos deixou sem nada dele. Ah! Como sinto falta do que éramos!
O mandato, apesar de termos caído, continua, e as capacitações, apesar de termos perdido a pureza, também, permanecem. É... ainda temos uma tarefa a cumprir!"
Imaginei esse diálogo do primeiro casal, para manter a perspectiva universal da vocação humana, o chamado a cuidar do planeta e de todos os seus habitantes (Gn 1.28), incluindo, por definição, a nós mesmos.
O chamado do DEUS, a partir de Abrão, para que todas as famílias da Terra sejam abençoadas (Gn 12.1-3) não substitui, mas, complementa o mandato, incrementando o elemento que se lhe tornou necessário, por causa da queda: a salvação de toda a criação (Rm 8.19). De modo que a missão do Israel do Antigo Testamento, que era a de trazer a criança prometida em Gn 3.15, tanto quanto a missão do Israel do Novo Testamento, que é a de anunciar a chegada da criança, a todas as famílias da Terra, fazem parte do cumprimento da responsabilidade humana.
Se toda a família humana é, em Abrão, chamada de volta ao DEUS, então, o mandato continua em vigor, porque a Terra vem junto, porque foi dada aos homens (Sl 115.16).
Quando a humanidade rompeu com o DEUS, desistiu de existir, porque é no DEUS que existimos (At 17.28). Quando a humanidade desistiu de existir, disse não ao DEUS e a tudo o que ele disse sobre a raça humana: que esta era a sua imagem e semelhança (Gn 1.26). O DEUS, entretanto, nos manteve existindo, porque nos havia criado no Cordeiro (1Pe 1.18-20; Col 1.15-17). Contudo, estávamos, fruto da queda, tomados pela maldade e, se o Criador não fizesse algo, a maldade seria o único conteúdo a dar o tom da nossa existência, o que provocaria imediata solução de continuidade, teríamos de ser aniquilados, então a Trindade, que é o DEUS, nos emprestou a sua bondade e toda boa dádiva (At 14.17; Tg 1.17).
Em sendo assim, todo bem que há no ser humano é empréstimo do DEUS, e nessa dimensão encontra-se talentos, e capacidades, e a vocação. O ser humano está, portanto, apto para o mandato, embora isso não signifique estar apto para a salvação, pois a graça que mantém a existência, embora tenha a mesma fonte: o sacrifício, e ainda que aponte para a graça que salva, está aquém da mesma. Esta graça, no entanto, nos faz indesculpáveis diante da convocação ao mandato cultural, por isso o juízo das nações é: tive sede, tive fome, estava nu, enfermo, forasteiro e preso... Podias tê-ló feito, mas não o fizestes... Ao outro e ao Planeta (Mt 25.31-40).
Se a convocação ao cumprimento do mandato é verdade para todos, o é, em especial, para os que foram levados à graça de salvação. Não há vocação para a Igreja, há o chamado para a humanidade, porque o sonho da Igreja é ser humanidade, para que a humanidade seja Igreja. Porque o homem à Imago Dei é a unidade humana, a humana unidade, a humanidade. "Homem e mulher os criou, humanidade os criou" (Gn 5.2) E os chamou de Adão, Adão é o nome dado pelo DEUS à humanidade. O primeiro Adão morreu, mas ressuscitou o último Adão (1Co 15.45). Último Adão é o nome da Igreja, a nova humanidade, que quer se tornar toda a humanidade, pela conversão da humanidade toda. Todo dom da Igreja é para toda a humanidade, uma vez que igreja quer que toda a humanidade seja igreja.
E Jesus levou cativo o cativeiro; o que, desde a fundação do mundo vinha levando, porque há muito, desde Gn 3.9, quando disse: "Adão, onde estás", ELE vem nos libertando; e deu dons aos homens (Ef 4.8), aos homens do primeiro e do último Adão. Artesãos, artistas, mestres, comunicadores, conselheiros, inspiradores, operadores, organizadores - tudo para que a humanidade fosse uma cooperativa onde todos trabalham para todos, e a Terra fosse um jardim de vida digna e harmoniosa para todas as espécies, e para todos os espécimes. Os que já foram salvos vivem em busca dessa cooperativa e desse jardim, pois, esta é a vocação da humanidade.
Os que se tornaram habitação do Espírito Santo, terceira pessoa do DEUS, para além dos dons da graça comum, a graça mantenedora, têm, também, os dons da comunhão, da graça da salvação: línguas; interpretação das mesmas; palavra de sabedoria; palavra de conhecimento; profecia; serviço; contribuição; ensino; encorajamento; misericórdia; presidência; operação de milagres; discernimento; a fé; dons de curar: advindos da ressurreição do espírito humano, pela habitação do Espírito divino (Rm 12.6-9; 1Co 12.4-30)
E tem as capacidades antigas, e o novo da unção do Cristo: se desbravava, agora pode vir a ser apóstolo; se visionava, agora pode vir a ser profeta; se convencia, agora pode vir a ser evangelista; se cuidava, agora pode vir a ser pastor; se ensinava, agora pode vir a ser mestre; se era empreendedor ou dirigente, agora pode vir a ser presidente diligente, presidindo recursos que sabe ser do DEUS, para o bem de todas as criaturas; se era filantropo, agora pode vir a ser doador do que administra para o DEUS, com liberalidade, para o sustento de tudo e de todos (Ef 4.11; 1Co 12.28; Rm 12.8).
Os dons novos se juntam aos antigos e num determinado momento, toda a humanidade se une, e todas as ações humanas devem se unir, tendo como objetivo comum, em seu exercício, o cumprimento do mandato para a glória do Criador: o DEUS do Universo. E, aqui, o ser humano do último Adão, ganha uma missão especial, demonstrar ao ser humano, que ainda está no primeiro Adão, o motivo de sua existência: o cumprimento do mandato, que só se cumpre, totalmente, quando se é transferido para o último Adão. E ser levado para o último Adão é voltar ao Adão ideal, que o primeiro foi criado para ser, e que o seria, se comido houvesse da Árvore do meio do jardim (Gn 2.9), a da Vida.
Os membros do último Adão, por suas obras, que são sempre boas, porque boas obras, mais que ato, são o ambiente onde vivem os do último Adão (Ef 2.10), e sinalizam, para os que ainda estão no primeiro Adão, que tipo de vida se deve viver e que tipo de sociedade se deve construir. Por isso, toda formação, todo trabalho, todo acúmulo de conhecimento é missão. Porque existir é milagre propiciado pelo sacrifício do Cordeiro, e toda a possibilidade de bem é doação do Cordeiro sacrificado por vontade própria (Jo 10.17,18). Por isso toda a vida é missão e missão é toda vida.