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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O Respeito Divino

Ariovaldo Ramos

Jo 21:17
Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu- se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu- lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.

Pedro negara a Jesus da forma mais angustiante. O último contato entre Pedro e o Cristo fora logo após o canto do galo. A profecia se cumprira: antes do galo cantar, Pedro negara, três vezes, conhecer ao Cristo; e quando o galo cantou os olhares de Pedro e do Cristo se encontraram... Nada mais restava a Pedro, senão sair para chorar.

Quando as mulheres, no domingo da ressurreição, foram ao túmulo para embalsamar o corpo de Jesus, encontraram o Anjo, que, após comunicar a ressurreição do Cristo, transmitiu-lhes a missão de comunicar aos discípulos e a Pedro, que o Cristo os encontraria na Galiléia.

Ao orientar ao Anjo que nominasse a Pedro, Jesus comunicou-lhe que fora perdoado e reincluso no colégio dos alunos do Cristo. Estava de volta ao time!

Galiléia dos gentios... Jesus reencontra Pedro. Primeiro, comeram, sempre um momento de descontração, ainda que estivessem diante do numinoso manifesto em carne, o que sempre silencia quem quer que seja. O mistério, quanto mais maravilhoso, mais impõe o pausa da reverência. E, então, começa um diálogo inusitado que não surpreende pelo constrangimento natural, mas pelo conteúdo.

Jesus tem a conversa esperada com seu aluno renegado, mas, para surpresa geral e particular, não toca no assunto. Não inquire sobre os motivos de tal abjeto ato, que, ademais, lhe havia sido avisado com antecedência; não questiona o porquê de não ter pedido ajuda quando teve oportunidade, nem pronuncia o temerário: "eu não lhe disse?".

Jesus, o Cristo, respeita o arrependimento de Pedro. O Messias quer, apenas, saber se a base para a retomada de qualquer relacionamento continua presente no coração do aprendiz. Se Pedro ainda o amava.

O mais triste no pecado é perceber que, ainda que por um momento, um amor consumido pelo egoísmo traiu o amor que sustenta vida, o amor por aquele que, na essência, é amado mais que a própria vida.

Arrepender-se é voltar consternado ao amor que, abandonar leva à perda do sentido da existência. Esse retorno tem de ser respeitado!

Nada mais angustiante do que o desrespeito ao arrependido. Nada mais terrível do que erro já confessado continuar a ser o assunto de rodas de pretensos irmãos. Nada mais aviltante do que pessoas a quem foi pedido perdão, principalmente, se mentores, ficarem a espalhar o que lhes foi dito no lugar sagrado da confissão.

A condicão indispensável para se sustentar a sinceridade do perdão ou do amor é o respeito ao arrependimento. Logo, o respeito ao arrependido. A maneira de respeitar o arrependido é o silêncio que dá lugar ao amor. O arrependimento é fruto de dor que o perdão deveria consolar.

Jesus acreditou em Pedro e lhe devolveu a honra, devolveu-lhe as chaves do Reino. O Cristo sempre faz assim quando perdoa!

E o surpreendente, tendo como base o cristão moderno, é que os demais apóstolos nunca questionaram o ato do Cristo. Ninguém saiu a contestar Pedro ou a reinvidicar para si as chaves pelo Senhor devolvidas. Ninguém nunca mais tocou no assunto. Não há pecado onde Deus não imputa pecado. O arrependimento tem de ser respeitado. Pedro voltou a ser digno de confiança como o deve ser quem quer que tenha se arrependido.
(c) ariovaldoramos

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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Culpa

Devia ficar, apenas, entre nós,
No entanto, parece, todos sabem!
A menos, que os olhares indaguem
O porque do sofrimento atroz.

Que ora escapa por minha voz,
Que ora o meu rosto denuncia,
Por este medo, que me angustia,
De profetas revelarem meus nós!

É como o famoso Freud explica,
E a pósmodernidade aplica?
Será só mero condicionamento?

Parece mais a culpa visceral
Que, desculpe tese intelectual,
Só se cura com arrependimento.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A criação e os apascentadores - um conto

Nota ao leitor: Esse texto é um conto. É obra de ficção, não de teologia. Os termos deus, pai, filho e espírito estão em minúsculas por se tratarem de personagens do conto, não do sagrado, de que trata a teologia.



No princípio estava tudo: era a família: o pai, o filho e o espírito que os unia, que carregava, em si, a maternidade, e que é uma pessoa. A família estava em constante dança, feliz, alegre e completa em si mesmo.

O filho pediu ao pai a possibilidade de estender esse amor. Como um deus não pode se reproduzir, por que deus, a família , por definição, existe desde sempre e para sempre, isto significaria criar o que pudesse ser amado e amar. Portanto, à imagem da família. Uma família semelhante. O pai concordou em criar outra família, expressão da família eterna.

E a família, que até então era só e suficiente, passaria a ser a família original, ainda que totalmente outra.

Seres, para poderem amar, precisariam ser livres. Liberdade, entretanto, é algo que só um deus pode sustentar, por causa da responsabilidade que demanda, mas, se a família semelhante já surgisse habitada pelo espírito que habita o pai e o filho, não seria livre. Criaturas são, por definição, finitos, logo, só podem ser tudo o que podem ser, ou seja, apenas perfeitos para, não perfeitos em si. Porque só um deus é perfeito em si. Seres finitos, livres... A liberdade dessa outra família se voltaria contra a família original. A família semelhante romperia com a família original! Um impasse!

A família original perdoaria porque é amor e o amor só age assim. Mas, havia o princípio de justiça sustentado pela família original, que não poderia ser descartado e que nenhuma criatura pode satisfazer; o que inviabilizaria a criação. Se a família decidisse criar a família semelhante, teria de satisfazer a demanda do princípio da justiça.

A família semelhante, portanto, não poderia ser criada no mero espaço da família original, tinha de ser num espaço a ser criado primeiro, o espaço do sacrifício da família original. A rigor, por ser criação, já o demandaria, porque o que não pode se sustentar não pode existir, pois fere o princípio da justiça, cuja demanda tem sempre de ser satisfeita, sob a pena da insustentabilidade. E decidiram que assim seria, o filho se prontificou a representar a família original e, para que houvesse criação, no seio da família original se fez um ambiente, até então imponderável, o ambiente do esvaziamento.

O filho se esvaziaria para satisfação do princípio de justiça, num “qüid pro qüo”, (uma coisa pela outra) o que o levaria a entrar na criação para anunciar o custo da criatura, e, uma vez na criação, teria de manifestar da forma mais pungente possível o custo da criação, demonstração necessária por causa do agravante da ruptura e, portanto, da necessidade do resgate. O que deveria ter sido um sacrifício teria de ser sacrificado.

Tudo seria feito no filho em estado de sacrifício, e só o filho falaria pela família original.

E a família original experimentaria o que parecia impossível: por amor à criatura, amor que, no pedido filho, se estabeleceu na família original, porque já estava lá desde sempre, assumiria o sacifício.

E tudo se fez num ambiente ainda mais imponderável: o sofrimento!

A família semelhante se desfaria como família, perdendo-se na confusão entre identidade e individualidade. Perdendo o senso de comunidade se perderia no individualismo. A ruptura com a familia original a afundaria na escuridão e na maldade. E o que deveria ser- lhe servo, seria seu algoz.

De família semelhante passaria a ser o conjunto dos que perderam a noção da família.

Seria uma situação impossível de sustentar, se o sacrifício não fosse suficiente para permitir que a família original emprestasse bondade para os membros da família semelhante, garantindo a sua sobrevida.

A família original interferiria na história do conjunto dos em perda, sem determinismo, mas com determinações que garantiriam o resgate do mesmo. Como a família original não pode ser surpreendida, sempre saberia onde e quando. Assim, a família, que resolveu tudo desde o começo, pôde anunciar como seria o fim.

A família original criara: criaturas não vivem no eterno, só no tempo; e mesmo tempo que não tenha fim não é eternidade, pois eternidade é onde qualquer noção de tempo é ausente, por definição. No tempo, a família original contaria com membros do conjunto, que receberiam luz suficiente para apascentar os que, como eles, voltariam a reconhecer a família original, por serem tomados pela consciência de que eram membros da família semelhante e, como tal, deveriam viver.

Esses cooperadores da família, homens e mulheres, receberiam vários nomes: visionários, loucos, patriarcas, sacerdotes, juízes, ungidos, profetas, apóstolos, presbíteros, diáconos, pastores; mas, sempre seriam, tão somente, cooperadores da família original e apascentadores da humanidade. A missão deles: a retomada da família semelhante.

Esses amigos da família e servos da humanidade viveriam de várias maneiras: como chefes de clã, como nômades, como andarilhos, como ermitões, como fugitivos, com protocolo, sem nenhuma noção de indumentária, no deserto, nas aldeias, de cadeia em cadeia, de cidade em cidade, numa comunidade ou tendo o mundo como paróquia, mas sempre segundo o coração da família original.

Desses membros do serviço da família original, muitos seriam o que se chama de bem-sucedidos, outros morreriam ainda jovens, outros carregariam para sempre as marcas da tortura, alguns seriam serrados ao meio, uns passariam pela cruz como o seu mestre, outros veriam o fim da sua fé, alguns morreriam na esperança, uns viveriam em família, outros a perderiam para poder viver o que tinham de viver, mas todos perseguiriam a mesma visão, e seriam mais do que qualquer sistema pode sustentar, mais do que qualquer mundo consiga dignificar. Eles só queriam ser recebidos na glória!

Então... Quando tudo não precisava de nada, a família falou: Façamos o homem à nossa imagem-semelhança, e tudo se fez de modo que a soberania da família fosse mantida e a liberdade humana não fosse aviltada. Selá!
(c) Ariovaldo Ramos



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